26/03/2021 - Schayla Jurk
A pandemia mudou o mundo e
transformou radicalmente a rotina. O isolamento social trouxe uma nova
realidade e nunca passamos tanto tempo dentro de casa. Esse novo modelo de
viver trouxe muitas atividades para dentro do lar e um novo olhar para os
espaços despertou uma ressignificação com os ambientes. Hoje a gente trabalha,
estuda, faz exercício físico, atividades de lazer dentro de casa. Os nossos
espaços desempenham novas funções e a nossa porta de casa é uma espécie de
barreira de segurança. Com tanto tempo habitando os mesmos metros quadrados a população
redimensionou a utilização dos ambientes. “A gente percebeu que a casa sempre foi o refúgio do ser
humano, mas sesse momento as pessoas se obrigaram a estar mais conectadas com
essa questão da casa e promoveram as mudanças necessárias para esse novo
cenário. O fato de as reuniões serem em casa, home office, academia exigiu que espaços
fossem redesenhados. Aquele consumidor que estava mais voltado para viagens e
eventos também se adaptou muito rapidamente e determinou a alteração na rotina
de negócios”, destaca Deyse Wagner, franqueada Florense Móveis Florianópolis. Neste contexto, reformas e mudanças para casas mais
espaçosas e mais conforto são primordiais neste cenário de pandemia. “O morar é uma teia complexa de relações que envolve múltiplos setores
econômicos, atividades, atores e experiências”, destaca o relatório “Futurability –
Morar”, elaborado pela consultoria de inovação e design Questtonó.
Este conceito despertou mudanças profundas em casas e apartamentos de todos país. Um processo que inclui repensar os valores, a importância do conforto e transformou comportamentos e relações de consumo. Um novo estilo de vida ou, pelo menos, pequenos ajustes que incluem móveis mais ergonômicos para trabalhar e passar horas do dia, um espaço maior de lazer ou simples adaptações para atender as demandas de famílias passando muito tempo dentro de casa. “Muitos clientes e investidores também estão buscando imóveis maiores, com um conceito diferente, justamente para poder ter um espaço agradável para o momento em que estamos ficando mais tempo em nossos lares. O home office, as crianças em casa e a necessidade do isolamento trouxe um outro significado. Por outro lado, o setor também precisou se reinventar, especialmente na comunicação, atendimento ao cliente e estratégia de venda. Acredito que vamos continuar inovando em todos os aspectos”, explica Evandro Simon, gerente de marketing da Nostra Casa Construtora de Chapecó. O resultado deste novo foco de consumo tem impactos diretos na construção civil e no setor de decor.
Mercado aquecido! A constatação é validada pelos números
do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do
Brasil (CAU/BR). Nos últimos três meses de 2020 as atividades registradas pelo
setor de arquitetura cresceram 12% em relação ao mesmo período de 2019. “Eu quero ter a minha casa
bacana se tornou uma necessidade muito presente e muito real. O cliente
está colocando isso na frente numa lista de prioridades”, reforça Deyse. Esta
nova perspectiva de olhar para a casa também é confirmada pelos dados estatísticos.
Entre o segundo e o terceiro trimestre
do ano passado o CAU/BR registrou um crescimento de 52% nas atividades
realizadas por arquitetos e urbanistas. É o novo estilo de vida trazendo oportunidades
de crescimento para o segmento do decor. “Eu entendo que vida estava tão fora de casa e tão
corrida que o lar ficava quase só como um ponto de apoio e não um elemento de
vivência. Você acabava não valorizando tanto esse espaço. O cenário presente
mudou e também vai mudar para o futuro. As pessoas vão valorizar mais o seu
espaço, mais dentro de casa e mais tempo com a família”, destaca Marcos Luz, franqueado
da Portobello Shop Blumenau. Um novo conceito que transforma as experiências de
compra.
Uma pesquisa da Associação
Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) registrou aumento de 23,61% no
número de vendas online de móveis e objetos de decoração em 2020. Uma tendência
que acelera o uso da tecnologia nos negócios. “Aprendemos
que uma boa experiência de compra depende de ver os objetos ao vivo, confiar
nos vendedores e vivenciar o espaço da loja. É por isso que ainda existe uma
parcela grande da população resistente a adotar a prática de comprar online de
maneira consistente. Bem, existia. O fenômeno da pandemia gerou mudanças
radicais no comportamento do consumidor, acelerando o crescimento do e-commerce
em nível mundial.”, enfatiza o relatório “Futurability –
Morar”, elaborado pela consultoria de inovação e design Questtonó. Uma tendência que revela um mercado aquecido e que abre cada
vez mais espaço à inovação. “O mundo digital e
as novas gerações são conectadas 100%. Então, as empresas na verdade se
adiantaram ou se adaptaram. Eu tenho esse entendimento de que já vinha
acontecendo e não foi simplesmente uma mudança de todos em todos os sentidos ou
em todos os patamares e, sim, uma adaptação”, analisa Marcos. A tecnologia é,
talvez, a principal protagonista neste cenário de mudanças no consumo em todos
os setores da sociedade.
Em 2020, os primeiros meses de pandemia trouxeram aprendizados
que revolucionaram as estratégias de vendas e são importantes ferramentas para
o atual momento. “A gente fechou. Depois a gente abriu e agora nesse momento
estamos revendo essas incertezas tudo de novo. Mas do cenário do ano passado
para agora já estamos bastante adaptados. A gente entendeu o novo momento e a começou
a atender os clientes com esse modelo com uma ajuda muito grande da tecnologia”,
descreve Deyse. As tendências tecnológicas já estavam inseridas no contexto comercial
antes pandemia e ganharam ainda mais força com criatividade. “Mudou a forma de comunicar.
O apelo pelas mídias sociais e os próprios aplicativos de comunicação exigiram uma reformulação, inclusive na equipe, de como trabalhar isso e de como lidar
com isso no dia a dia. A velocidade também aumentou com a tecnologia e eu tenho
que dar essa resposta cada vez mais rápida. Quando estamos conectados não podemos
esperar. As pessoas entendem que a tecnologia é imediata. Então, eu entendi
também que a tecnologia acabou mudando a nossa rotina”, define Marcos. Afinal
os consumidores já não são os mesmos e a preparação é essencial para atender
esse novo mercado. No ano passado, os registros são de mais de 1,5 milhão de serviços do setor. Na construção civil, a pandemia trouxe reflexões
sobre processos e os novos negócios. “Devido a nossa localização
em meio as agroindústrias, em plena pandemia de 2020 e agora neste 2021, o
nosso setor da construção permaneceu aquecido. Percebemos que o investimento
certo que os clientes buscavam eram em nossos produtos que tem o sinônimo de
credibilidade e que vão receber o proposto, até lançamos novos produtos no
mercado devido a demanda”, explica Evandro. A
alta desse mercado tem também expressivo impacto no ambiente de negócios do
segmento de décor.
A
alteração nas dinâmicas de trabalho e relacionamentos trouxe significativa evolução
nos modelos de negócios. “Não vejo mais a gente voltando para o passado nos
modelos mais tradicionais onde o cliente necessariamente ia até a loja. Isso
era quase uma coisa obrigatória. Hoje a gente tem clientes que começam a ter atendimento virtual e depois
terminam na loja. A gente também tem clientes que vão até o fim em atendimentos
virtuais”, conta Deyse.
O
que vai acontecer daqui para frente? As respostas nunca são exatas em termos de
futuro e em tempos de incerteza prever o próximo mês ou ano é ainda mais
desafiador. Deyse, Marcos e Evandro analisam
o mercado e nessa perspectiva, destacam os aspectos que consideram essenciais e
transformadores nos modelos de negócios no futuro. “Acho que a gente está
caminhando e já caminhou para um modelo híbrido. Acho que a gente vai ter cada
vez mais modelos híbridos de negócio. Já conseguimos personalizar a experiência,
mesmo no processo habitual. Então tudo aquilo que a gente fazia na loja estamos
conseguindo fazer no virtual também”, destaca Deyse. “A análise de dados mostra
que o mercado da construção continuará crescendo. O Governo está lançando
linhas de crédito que incentivam o mercado, aliado às reduções de taxas,
clientes buscando novos lares para morar após um grande período de isolamento.
Esse novo cenário faz com que as construtoras tenham um vasto nicho de mercado
para atender os clientes que buscam por mais espaço dentro de seus lares, mais
lazer individual, um bom local para montar seu escritório. Com estes dados as
construtoras se preparam e lançam produtos para atender essa demanda. A curva
só tende a crescer”, destaca Evandro. “Quando tiver a vacina e a pandemia diminuir,
vai reduzir essa violência que a Covid trouxe. Eu acho que a gente começa a ter
uma nova rotina e uma estabilidade. Acho que terá uma divisão de investimentos,
mas não tenho dúvidas que a casa vai ser ainda mais valorizada nesse sentido.
Então eu vejo um cenário promissor e um crescimento nesse país. O Brasil tem
potencial para isso e tem muita demanda. Então, vamos acreditar. Sim, eu
acredito. Acredito num futuro bem promissor”, revela Marcos com otimismo sobre
os próximos anos.
Comentários