18/06/2021 - Schayla Jurk
Ruas aparecem e desaparecem, cidades novas são
construídas e espelhos fazem jogos entre real e imaginário. A cena do filme A
Origem transporta para a mente do personagem e leva o espectador
para uma viagem por cenários distintos construindo uma narrativa que transcende
a criatividade cinematográfica e cria um diálogo com a arquitetura. No entanto,
este enredo que une cinema e arquitetura é coisa dos séculos passados.
A
Origem – (Dir. Christopher Nolan)
O ano é 1895. Os irmãos Lumière criaram o cinema
e de lá até os primeiros estúdios no Estados Unidos o protagonismo das cidades
e da arquitetura sempre trouxe elementos importantes para o enredo. No primeiro
filme da história cinematográfica, a estação de trem é cenário e também ícone
da modernidade na época. É claro que desde “A chegada de um trem a Ciolat”
muita coisa mudou nas locações e a evolução tecnológica possibilita construir
ou reconstruir cidades e até mesmo mudar de século. “Em outras palavras, filme
e arquitetura são produtores dos espaços de vivência e das narrativas do
espaço. E, mais importante, são visões habitadas e espaços de experiência
narrados pelo e através do movimento. Talvez por isso mesmo construam
subjetividades que se formam a partir do cruzamento do espaço concebido,
percebido, vivido e das artes (os meios) que representam e incorporam o
espectador”, explica a pesquisadora Maria Helena Braga e Vaz da Costa no artigo
A cena espetacular: cinema e arquitetura urbana na contemporaneidade. Neste contexto o arquiteto assume o importante
papel de retratar a cena.
A chegada de um trem a
Ciolat
O arquiteto francês Jean Nouvel comparou o cinema e a arquitetura
numa esfera muito próxima e revela similaridades entre as duas profissões criativas
que chegam a eliminar particularidades de apenas uma área de atuação. "o
arquiteto, à semelhança de um diretor de cinema, deve saber captar a luz, o
movimento, produzindo por meio de seus projetos uma coreografia de ritmos,
gestos, imagens, tomadas (planos) e fantasia. Saber realizar, enfim, a síntese
entre o universo real e o virtual...", destaca Nouvel. Desta forma, a
arquitetura assume um papel ativo na cenografia dos filmes. Os cenários
contribuem para delinear as formas dos filmes. "Creio que os filmes são um
produto e uma parte do meio urbano, quase como a música, e os arquitetos que se
interessam por urbanismo deveriam estar informados sobre o tipo de música que
se escuta, da arte que se faz e dos filmes que se rodam", declarou Wim
Wenders. É através da arquitetura que o enredo liga tempo, espaço e
personagens.
O
Fabuloso Destino de Amélie Poulain – (Jean-Pierre Jeunet) O filme é um passeio pelas ruas
de Paris, na França.
Nos últimos anos, a arquitetura surge no cinema
como importante instrumento para explorar novas formas do espaço. As narrativas
visuais apresentam e representam os lugares e sugerem uma experimentação dos
espaços de uma forma única e conceitual. A estreita ligação do cinema com a
arquitetura é tão intensa que profissionais estão deixando de lado os croquis
para mergulhar de vez na sétima arte. É
neste contexto que surge a atuação do production designer. Um profissional
que junto com o diretor de fotografia planeja e desenvolve todo visual do filme,
projetando e desenhando sets.
O Iluminado
– (Dir. Stanley Kubrick) Uma
história de suspense que se passa em um hotel.
A
arquitetura também está no eixo central dos filmes. A equipe multidisciplinar
alemã 9sekunden produz filmes de arquitetura que partem de estudos fotográficos
e cinematográficos.
Assistindo os filmes do 9sekunden descobrimos que a arquitetura é muito mais do
que apenas beleza, firmeza e utilidade, ela é também espaço, som e movimento,
revela Andreea Cutieru no artigo A atmosfera
do espaço revelada em filmes de arquitetura. Uma
forma de ressignificar a arquitetura através do cinema.
9sekunden
Fontes:
Fábio Allon dos Santos: arquiteto
e urbanista (UFPR), mestrando em Teoria, História e Crítica da Arquitetura no
Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura (UFRGS).
Artigo: A cena espetacular: cinema e arquitetura urbana na contemporaneidade de Maria Helena Braga e Vaz da Costa
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