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“Arquitetura é música congelada”

29/05/2020 - Schayla Jurk

Aperte o play bit.ly/playlistncd  e faça uma viagem musical pela arquitetura enquanto lê o texto sobre a conexão entre as partituras e os desenhos. 




O compositor francês, Claude Debussey definiu a música como o “espaço entre as notas” e traduz esse conceito a partir do movimento que chama de espaço-temporal. Claude acreditava que a arquitetura conecta as unidades de tempo e espaço. O arquiteto alemão Karl Friedrich Schinkel (1781-1841) afirmava que construções inspiravam as pessoas que conviviam nos espaços que traziam lembranças dos homens e do melhor da cultura, incluindo a música. É assim que “Arquitetura é música congelada", célebre frase de Arthur Schopenhauer ou Goede, a autoria é uma incógnita, traduz como os espaços inspiram a sentir os traços e também afloram as emoções de compositores. 




O arquiteto e designer gráfico italiano Frederico Babina cria réplicas abstratas de edifícios famosos com especial atenção à geometria e forma. Inspirado pela música desenvolveu o projeto Archimusic, representações arquitetônicas de 27 músicas que você ouve na nossa playlist.





As canções como "Bohemian rhapsody" de Freddie Mercury, "Let it be" dos The Beatles, "Billie jean" de Michael Jackson,  "Requiem" de Mozart, "Wish You Were Here" do Pink Floyd, "Wish You Were Here" são retratadas com poesia e matemática por Frederico Babina.









"Música e arquitetura estão intimamente ligadas por uma conexão cósmica. Ambas são geradas por um código subjacente, uma ordem revelada pela matemática e pela geometria. [...] nessas imagens a arquitetura e a música compartilham uma clara genealogia cultural. A cor e as diferentes nuances da música moldam as formas e volumes. A leitura horizontal oferece algumas linhas musicais, ao passo que a leitura vertical revela tanto a harmonia e a dissonância. Um edifício como uma progressão harmônica seguindo o movimento dos acordes. Um ritmo de sólidos e vazios que reproduz as sequências de notas e silêncio’, explica o arquiteto e designer gráfico italiano. 





No Brasil, Tom Jobim e Caetano Veloso eternizaram a arquitetura na música. O famoso cruzamento da MPB está no centro de SP. “Alguma coisa acontece no meu coração / Que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João / É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi / Da dura poesia concreta de tuas esquinas / Da deselegância discreta de tuas meninas”. Esta é a letra da esquina pertinho da estação República, das linhas Amarela e Vermelha do metrô que Caetano Veloso descreve na música “Sampa”, lançada em 1978. A praça ganhou importância com a construção do Viaduto do Chá, que fazia um elo entre o chamado "centro velho" e o "centro novo". Em 1894, a praça foi escolhida como o endereço da Escola Normal Caetano de Campos, edifício planejado por Antônio Francisco de Paula Sousa e Ramos Azevedo, que atualmente é a sede da Secretaria Estadual da Educação. Logo no começo do século XX, veio a primeira reforma, que, inspirada em praças europeias, trouxe as pontes e lagos.




O ano de 1978 também seria marcado pelo lançamento da música “Praça da Sé” por Adoniran Barbosa. Inspirado na arquitetura o compositor escreveu:  “Da nossa Praça da Sé de outrora / Quase que não tem mais nada / Nem o relógio que marcava as horas / Pros namorados / Encontrar com as namoradas”. A letra retrata a reinauguração da Praça, depois de uma reforma de seis anos. O progresso trouxe o surgimento da estação de metrô e Adoniram refletia na música o progresso da região. 





Na capital do país, a história de amor entre Eduardo e Mônica, eternizou o Parque da Cidade. A canção criada por Renato Russo e gravada no disco “Dois”, da Legião Urbana, retrata lugares de Brasília. O casal trocou telefone quando se conheceu numa festa e depois marcou um encontro no Parque da Cidade. O ponto turístico é um dos maiores parques urbanos do mundo e o maior da América Latina.




Tom Jobim compôs em 1963 Samba do Avião.  A música relata a experiência arquitetônica de turistas e moradores que chegam ao Rio de Janeiro nas alturas. “Minha alma canta/ Vejo o Rio de Janeiro/ Estou morrendo de saudade/Rio teu mar, praias sem fim/Rio você foi feito pra mim/Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara”. A música descreve a sensação da vista de dentro do avião.
Em 1999, o aeroporto internacional do Rio foi batizado com o nome do maestro, Tom Jobim.






Os traços materializados nas canções traduzem a inspiração de compositores e cantores mundo afora. O Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim que eternizou na música cenários do Rio de Janeiro também inspirou um texto de Chico Buarque sobre Oscar Niemayer. Nem sempre a melodia vira música, mas pode virar um poema. A Casa de Oscar traduz os momentos da infância e adolescência de Chico Buarque. É praticamente uma autobiografia que revela a proximidade com Oscar Niemayer, além das pranchetas e do cimento armado. 





A Casa do Oscar

 

“A casa do Oscar era o sonho da família. Havia um terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar.

Mais tarde, em um aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira.

Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e saí batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar!

Pois bem, internaram-me em um ginásio em Cataguases, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo.

Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar.

Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar".

 


Você ouviu na nossa playlist:

 

 

1.       Miles Davis, "So what"

2.      Freddie Mercury, "Bohemian rhapsody"

3.      The Beatles, "Let it be"

4.      Michael Jackson, "Billie jean"

5.      Mozart, "Requiem"

6.      The Police, "Every Breath You Take"

7.      Radiohead, "No Surprises"

8.      John Coltrane, "Naima"

9.      Pink Floyd, "Wish You Were Here"

10.  Joy Division, "Love WIll Tear Us Apart"

11.  David Bowie, "Space Oddity"

12.  Chet Baker, "My Funny Valentine"

13.  Jim Morrison, "Light My Fire"

14.  Blur, "Song 2"

15.  Bjork, "Joga"

16.  Charlie Parker, "Confirmation"

17.  Nick Drake, "River man"

18.  Nirvana, "Smells Like Teen Spirit"

19.  Jimi Hendrix, "Hey joe"

20.  Manu Chao, "Me gustas Tu/ Desaparecido"

21.  J. S. Bach, "Suite pour violoncelle N°1"

22.  The White Stripes, "Seven nation army"

23.   Philip Glass, "Morning Passages"

24.  Laurie Anderson, "O superman"

25.  Elvis Presley, "Can't Help Falling In Love"

26.  Amy Winehouse, "Rehab"

27.  Paco de Lucia, "Entre dos Aguas"

28.  Caetano Veloso, “Sampa”

29.  Adoniran Barbosa, “Praça da Sé”

30.  Legião Urbana, “Eduardo e Mônica”

Tom Jobim, “Samba do Avião”

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