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O sonho nasce em minha alma
Vai tomando o peito e ganhando
jeito

Se eternizando, traduzido em
forma

O mais imperfeito, perfeição se
torna

Lá no me quintal, eu vou fazer
um bangalô

Já foi tapera feita em palha e
sapê

E uma capela que a candeia
alumiou

A lua cheia…

Vem, é lindo o anoitecer
Vai, eu morro de saudade
Todo mundo um dia sonha ter
Seu cantinho na cidade

Como é linda a vista lá do meu borel
Luzes na colina, meu
arranha-céu

Linhas do arquiteto, a vida é construção
Curva-se o concreto, brilha a
inspiração

Lágrima desce o morro
Serra que corta a mata
Mata, a pureza no olhar
O rio pede socorro
É terra que o homem maltrata
E meu clamor, abraça o redentor
Pra construir um amanhã melhor
O povo é o alicerce da esperança
O verde beija o mar, a brisa
vai soprar

O medo de amar a vida
Paz e alegria vão renascer
Tijuca, faz esse meu sonho
acontecer

A minha felicidade, mora nesse lugar
Eu sou favela!!!
O samba no compasso é mutirão
de amor

Dignidade não é luxo, nem favor

 

Samba-enredo ‘Onde moram os sonhos’ da Unidos da Tijuca em
2020.




No samba de 2021 um carnaval de isolamento social.
A alegoria que fará sucesso neste ano é o cuidado com a saúde coletiva e a
alegria está no bloco dos saudáveis. O fato é que o país da folia de fevereiro
tem um novo cenário e muito diferente dos tradicionais desfiles, bloquinhos de
rua, brilho e confetes. A festa é uma mistura de manifestações e sempre
mobilizou os foliões de norte a sul desde o século
XVII. O cancelamento das tradicionais aglomerações que expressam a cultura
é mais um fato que fará parte do enredo do carnaval no país. 

“Não deixe o Samba Morrer”, gravado no Sambódromo Marquês de Sapucaí no início de 2021



A história do carnaval no Brasil tem um capítulo
que cruza com a trajetória de Oscar Niemeyer. O sambódromo do Rio de Janeiro,
palco de um patrimônio cultural do país, é a popular
Marques de Sapucaí, inaugurada
em 1984. O cenário dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro
construído em tempo recorde de apenas 3 meses é uma estrutura de concreto, com
peças pré-moldadas e 700 metros de comprimento. O projeto de Oscar Niemeyer é
considerado uma obra cultural. 



Quanto ao meu trabalho, ele se
minimiza diante da grandeza técnica da obra; da atuação exemplar de Darcy
Ribeiro, modificando o programa, preocupado como sempre foi com os problemas
culturais e artísticos, entre nós, nem sempre bem atendidos, do entusiasmo com
que a ela engenheiros e operários se dedicaram abnegadamente. Fiz o que me foi
possível dentro de um programa limitado de arquibancadas, de um terreno exíguo
demais e um complexo inusual no qual arquibancadas e escolas deveriam se
adaptar harmoniosamente. E me esmerei nas estruturas e no Museu do Samba, que
com seu grande arco representa o fecho da composição, procurando dar ao projeto
aspecto diferente, capaz de criar surpresa e com ela acentuar o sentido
monumental e festivo da composição”, declarou Niemeyer sobre a passarela do
samba. 


Após quase 40 anos da
inauguração da
Passarela Professor Darcy Ribeiro as
transformações na forma de uso e os avanços tecnológicos trouxeram um novo
mecanismo para edificação que abriga um espetáculo que cresce todos os anos em
número de componentes e efeitos visuais. “A Passarela Darcy Ribeiro tornou-se
uma referência arquitetônica e urbana monumental e corresponde, mesmo sem a
festa do carnaval, ao símbolo deste, pois seu espaço, seus módulos de
arquibancadas e seu arco de concreto marcam a paisagem e lembram a todos que
ali é o lugar da festa, no Rio de Janeiro”, explica o professor Doutor da
Escola de Arquitetura e Urbanismo da 
Universidade Federal Fluminense, Guilherme Araujo de Figureiredo. Uma
proposta que altera a base arquitetônica de 1984, mas preserva os pilares deste
monumento estrutural da capital carioca. Há quatro décadas o projeto trazia uma
alternativa para um espaço pequeno com múltiplas funções.
“No que concerne a
arquitetura, o mais importante foi, primeiro, encontrar uma solução inusitada
para a integração das salas de aula e das tribunas. Uma solução simples e
funcional com o objetivo de não comprometer a unidade. Em seguida, dar ao
conjunto um sentido plástico, inovador, qualquer coisa capaz de marcá-lo como o
novo símbolo dessa cidade. Isso explica o Museu do Samba, o painel de Marianne
Peretti, os mosaicos de Athos Bulcão, o grande arco, esbelto e elegante,
lançado no espaço como o concreto armado permite. E tudo isto conferiu à Praça
da Apoteose, que os grandes espaços tornam monumental, uma nova dimensão
arquitetônica, e esse nível de bom gosto, fantasia e invenção inerente a toda
obra de arte”, relatou Niemeyer.

 


Desenho do Sambódromo da Marquês da Sapucaí em 2021

No artigo Oscar Niemeyer e a construção do monumento ao carnaval carioca: 30 anos
do programa arquitetônico da Passarela Professor Darcy Ribeiro, Figuereido
reforça a importância das mudanças na estrutura para atender as novas
necessidades dos desfiles das escolas de samba. “O carnaval e suas formas de
manifestação se reciclaram e se transformaram, sempre em função da sociedade e
muito em função dos espaços que ocuparam”, destaca Figuereido.


Sambódromo da Marquês da Sapucaí em 2021 

No entanto, além da estrutura física o carnaval
tem novas formas que incluem profissionais de todas as categorias neste enredo.
A tecnologia dos carros alegóricos e a logística dos barracões inseriu
especialistas neste cenário. O arquiteto surgiu como personagem principal da
Unidos da Tijuca no Carnaval de 2020. O anúncio do Rio de Janeiro como sede do
Congresso Mundial de Arquitetos trouxe a inspiração para os carnavalescos Paulo
Barros, Isabel Azevedo, Ana Paula Trindade e Simone Martins  criarem um enredo sobre a arquitetura e o
urbanismo. 

 “Ao
realizar o seu trabalho, os arquitetos deixam registros que nos ajudam a
compreender a nossa história. Templos, castelos, monumentos, casas, prédios,
conjuntos habitacionais, parques, praças, ruas e avenidas revelam a
contribuição de uma das mais antigas profissões”, declaram os responsáveis pela
escola em texto divulgado oficialmente.

Além da homenagem, a escola também trouxe para
avenida questões como a preservação de patrimônios e os conhecimentos
ancestrais da profissão. O desfile ‘Onde
moram os sonhos’
, com samba assinado por Dudu Nobre, Totonho,
André Diniz, Fadico, Jorge Aragão dividido em quatro setores discutiu os vários
pontos e olhares para a profissão.
 

Aliás, a arquitetura ultrapassa as fronteiras de enredo de escola de
samba e está inserido diretamente na logística dos barracões. A partir do
momento em que os carros alegóricos surgiram com ênfase nos sambódromos a
importância dos profissionais especializados conquistou um papel fundamental
para a segurança e estética.  Os primeiros
registros de carros alegóricos são de
1786 quando o militar
e artista Antônio Francisco Soares projetou e construiu os primeiros
modelos movidos à tração animal. Séculos depois a tecnologia incorporou o
arquiteto neste cenário e uniu o profissionalismo com o talento dos moradores
das comunidades em que surgiram as escolas. 

Projeto de carro alegórico 



A arquiteta americana
Gia Wolf, desenvolveu um estudo sobre a relação do funcionamento da performance
e o uso do espaço para transmitir narrativas, formas e emoções. No projeto
“Floating City: The Community-Based Architecture of Parade Floats”, Gia aborda
a a
rquitetura baseada na
comunidade de carros alegóricos de desfile. Com o estudo a arquiteta conquistou
o prêmio do concurso
Wheelwright Prize. Gia descreve no artigo
que
“o carro transforma a
cidade. Sua escala faz ruas externas em salas interiores de teatro.


“Os carros alegóricos têm uma escala arquitetônica
e é muito surreal a relação entre eles e os prédios, os veículos, as árvores, a
fiação, o viaduto, os pedestres… Eles são realmente construções móveis se
movimentando pela cidade, que sofre uma transformação na sua atmosfera para o
carnaval”
, declarou a arquiteta
Gia Wolff quando esteve no Rio de Janeiro em 2015 e participou da reportagem do
jornal ‘O Globo’.

Além disso, os
arquitetos atuam dentro dos barracões com a logística e processo de criação de
todo enredo de carnaval. Os croquis, maquetes e desenhos técnicos de carros
alegóricos, soluções arquitetônicas de uso dos espaços e matéria-prima e também
aprimoramento de execução dos projetos estão no escopo dos arquitetos como
Monclair Oliveira Filho, que já trabalhou na ‘Porto
da Pedra’ e ‘Grande Rio’ e Alexandre Louzada que é o 
único carnavalesco campeão
do 
carnaval carioca
 em quatro grandes
escolas de samba diferentes.


Barracão do Salgueiro 

Barracão do Salgueiro 

Barracão da Mangueira 



É assim que a folia
ganha os contornos da arquitetura e transforma o carnaval do Brasil no maior
espetáculo do mundo e eleito o
Favorite
Event Around the Globe.
 

Fontes:

Site: niemeyer.org.br

Artigo: Oscar Niemeyer e a construção do monumento ao
carnaval carioca: 30 anos do programa arquitetônico da Passarela Professor
Darcy Ribeiro

Artigo: Floating City: The Community -Based Architecture of Parede Floats 

Jornal O Globo

 

Fotos:

carnavalesco.com.br 

super.abril.com.br

salgueiro.com.br

diariodorio.com.br

 

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